quarta-feira, 17 de julho de 2013

A hora e a vez do Empreendedorismo Universitário

Empreendedor, nas palavras de Louis-Jacques Fillion, professor da Escola de Negócios de Montreal, é uma pessoa que imagina, desenvolve e realiza visões. Essa designação para pessoas que decidem criar algo diferente e gerador de valor, dedicando tempo, esforço, paciência e dinheiro em prol de benefícios múltiplos se popularizou dentro do que viria a ser a Administração de Empresas, a tomada de decisão sobre recursos disponíveis, trabalhando com pessoas e através delas para atingir objetivos. 

Entretanto, se pararmos para pensar, essa definição talvez tenha sido a mais difundida por ser muito abrangente, mais até do que a própria Administração. Afinal, o empreendedorismo cabe em qualquer lugar e circunstância. Ele não precisa visar necessariamente ao lucro: e os chamados negócios sociais, que a mídia tem destacado atualmente, provam isso. Ele nasce dentro de um processo criativo, uma torrente de impulsos elétricos do cérebro transformadas em ideias, e externaliza-se na prática social, colocando essas ideias à prova da realidade. 

O sentido de criatividade fortemente associado ao empreendedorismo remete à genialidade, como nas grandes invenções de cientistas notáveis, que revolucionaram a forma de enxergar o mundo. Ou engenheiros, que passaram a otimizar o trabalho humano nos mais variados ramos a partir da Revolução Industrial. A própria administração adquiriu corpo teórico a partir do trabalho de um engenheiro mecânico: Frederick Winslow Taylor, considerado o pai da Administração Científica.

Todavia, o empreendedorismo existe em várias escalas, e não está subscrito a realizações grandiosas. Ele está implícito em pequenas ações conscientes que, bem orientadas, podem provocar grandes repercussões. No campo dos negócios, por exemplo, é comum as pessoas evitarem a prática empreendedora por acreditarem ser uma coisa difícil demais. Isso ocorre porque geralmente elas foram educadas a moderar seus sonhos. Ou então sonham alto sem a disposição necessária para viabilizar esses sonhos. 

Por muito tempo os brasileiros preferiram a segurança do profissionalismo liberal ou do funcionalismo público em detrimento da criação de um negócio próprio. Isso ainda é muito verificável nos dias de hoje, muito embora a situação tenha começado a ficar um pouco diferente graças a iniciativas como o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e outras instituições que surgiram para fomentar o empreendedorismo, fornecendo informações para ajudar as pessoas nessa tarefa que supunham difícil demais para elas. 

Passou a ser comum ver o engenheiro aposentado que resolveu, com o dinheiro do FGTS, abrir um restaurante. Ou mesmo o executivo frustrado que largou o emprego para ter sua própria franquia. A principal vantagem disso é que as pessoas deixaram de ser acomodadas com respeito à satisfação de suas necessidades e desejos, passando a acreditar que a mudança de planos, tão frequente na condução de uma empresa, não é tão assustadora quanto parecia, e porventura mais estimulante do que os empregos tradicionais. 

Essa fase de quebra de paradigmas ocorreu, entre muitas outras coisas, mais cedo nos Estados Unidos. Lá o empreendedorismo universitário, que hoje tem chamado muita atenção, já havia começado, ligeiramente, mas com grandes expoentes, na década de 80. E um dos locais-chave dessa transformação foi o Vale do Silício, na Califórnia. O filme Piratas do Vale do Silício conta a história do início da era dos computadores pessoais, protagonizada por Bill Gates, Steve Wosniak e Steve Jobs, entre outros. 

Há muitos livros sobre isso, mas um livro recente que gostaria de destacar é A cabeça de Steve Jobs, do editor-chefe da revista eletrônica Wired, Leander Kahney. Steve Jobs, o criador da Apple, é apresentado como um gênio excêntrico e criativo, extremamente preocupado com a qualidade e a estética. Não é a toa que os produtos da Apple alcançaram tamanho prestígio. 

O equivalente moderno para isso, também no Vale, é a criação do Facebook, encabeçada por Mark Zuckerberg e seus amigos, entre os quais o brasileiro Eduardo Saverin. A história é contada no livro Bilionários por acaso, que deu origem ao filme A rede social. Mark é apresentado como alguém que passou do isolacionismo nerd para nada mais nada menos o criador da maior rede digital de interação social de todos os tempos, se tornando o bilionário mais jovem dentre aqueles que partiram do zero. Em maio de 2012, o Facebook realizou seu IPO (abertura de capital), tornando-se a maior empresa de informática do mundo, à frente de empresas como Google e Microsoft. 

Notadamente, ao longo desse processo as universidades passaram a reconhecer a importância do empreendedorismo para a formação profissional, afora as áreas em que, naturalmente, ele já era estudado (Administração, Economia, Contabilidade...). O Massachusetts Institute of Technology (MIT), por exemplo, criou o GEL, ou Gordon Engineering Leadership, um programa de liderança e inovação para estudantes de engenharia. Se a engenharia é a principal responsável pela inovação tecnológica do mundo de hoje, é imprescindível que o aprendizado sobre o empreender esteja vinculado à capacitação científica e técnica. 

Ironicamente, uma matéria da administração formal, que surgiu com o engenheiro Taylor, retorna, de certa forma, para a engenharia. Tudo isso leva a crer que o empreendedorismo é, na verdade, uma área transdisciplinar que coaliza diferentes saberes para a proposição de melhorias em produtos e processos, e retocar toda a caricatura que, continuamente, esboçamos do mundo.